sexta-feira, 4 de outubro de 2013

A 1535 e a Operação Kisonde.


 A 1535 e a Operação Kisonde.
 
Espero conseguir dar umas tecladas para narrar a operação de maior duração que a nossa Companhia efetuou, peço desde já desculpa por algo que saia menos bem, mas não possuo dotes de escritor.
Esta Operação denominada de Kissonde(nome de uma Formiga devastadora) foi uma operação com essa finalidade, devastar tudo que o inimigo possuía para alimento e abrigo, aos Militares que faziam o necessário combate juntava-se um grupo de Nativos que tinham como missão destruir todas as plantações com que o inimigo garantia a sua subsistência.
A Operação Kissonde tinha uma duração de 45 dias, penso que seria assim para todas as Companhias intervenientes, à nossa Companhia coube faze-la do principio de Julho a meados de Agosto de 1966, a nossa intervenção foi executada na margem direita do Rio Dange se não estou em erro entre O Pirri e A Cunha e Irmãos.
Saímos de Kicabo nosso Quartel viemos ao Caxito aqui entramos na estrada que ia para Ucua, Kitexe, passando á esquerda da Pedra Verde no sentido descrito e um não sei quantas Povoações situadas nas proximidades desta estrada eixo principal de ligação entre Luanda e Carmona, perto do Kitexe existia uma Fazenda denominada de Maria Manuela, foi nesta Fazenda que passa-mos um dia para dali e pela noite dentro fazermos a aproximação e consequente travessia do Rio Dange, esta travessia tinha que se fazer em barcos pois não existiam pontes, o barco um Pneumático dos Fuzileiros Navais, fez esse transbordo, a 1ª viagem foi só uma secção dos Fuzileiros que a fizeram com Remos e se instalou na margem do Rio atando uma corda á ponta do barco que assim podia ser puxado de uma margem para a outra sem fazer barulho, seguiu-se a travessia para a Nossa Companhia estes pneumáticos eram pequenos talvez levassem cerca de 15 pessoas de cada vez o que deve ter obrigado a mais de umas 10 travessias para colocar na margem do Rio todos os efetivos que iam executar esta Missão, estas travessias e como descrevi foram feitas no silencio da Noite, quando o pessoal estava todo na Margem direita do Rio os fuzileiros fizeram a travessia da sua secção para o ponto de partida e terminaram aí a sua Missão. Entretanto começava a amanhecer já nós tinha-mos ocupado um Morro a uns 100 metros da Margem do rio era um ponto mais elevado o que nos permitia uma melhor defesa e tínhamos o Rio por perto que nos permitia abastecer de água, logo que se começou a ver tratámos de arranjar o que se denominava de PI ou seja um tipo de acampamento em circulo por forma a dominar-mos bem este espaço no caso de ataques, cada secção encarregou-se de fazer o seu indispensável abrigo cavando a terra por forma a que servisse de defesa e de cama ao mesmo tempo, o colchão como se imaginará era o chão para nos tapar usava-mos os panos de tenda que cada um possuía para estas eventualidades, uma vez os necessários abrigos prontos passámos ao que ali nos levou a operação em si e vai de seguir para os objetivos que tínhamos que destruir, nos primeiros dias a Operação foi comandada pelo Coronel Totobola (é alcunha mas ele fazia questão de ser assim tratado) era um grande estratega Militar sabia colocar as forças necessárias no sitio certo por forma a poupar vidas, mas era um Homem incomodo a outros Comandos e por isso substituíram-no por um outro comandante da Operação pessoa a que nós Soldados pouco apreço demos Denominámo-Lo de O á Carga pois quando nos foi visitar ao PI para se apresentar como novo comandante de Operação ao chegar ao PI mandou 3 berros de à carga, na minha modesta qualidade de Praça bem como na dos meus camaradas não entendemos o significado de tal alocução, se era o grito de motivação perdeu o seu tempo pois a nossa motivação estava na Camaradagem e no esforço conjunto dos que fazíamos aquele sacrifício para executar tão difícil operação se possível sem qualquer baixa o que Graças A Deus foi possível.
Mas a partir de que a operação foi executada sobre as ordens deste novo comandante começaram a existir mais problemas provavelmente por deixar de existir um contingente de forças que operavam nas nossas alas e que encurralava o inimigo não lhe deixando espaço para se expor, sem essas forças no terreno o inimigo passou a ficar com campo para desferir os seus ataques, como estava-mos no meio da mata sem quartel por próximo para reabastecer, o material bélico ia-se reduzindo , e lembro-me de um ataque que o inimigo nos fez em determinado dia quando já estávamos de regresso ao PI após um dia de destruições e onde o inimigo tinha ocupado uma zona que lhe beneficiava as condições de ataque e ao qual nós só obteríamos resultados com o lançamento de Morteiros, Bazucas e Energas e lá enviamos todo esse fogo de que dispunha-mos mas tornou-se pouco e os tiros de espingarda seria só para gastar munições, foi então pedido pelo Alferes que Comandava a Companhia o apoio de uma secção de Morteiro pesado que estava estacionada no nosso PI com a finalidade de apoiar quando necessário, aqui o Oficial que estava a comandar e debaixo de fogo como todos nós deu as coordenadas corretas para onde nos deveriam mandar as respetivas Morteiradas essa secção de Morteiros iniciou o envio de tais projeteis com uma precisão absoluta só que cada morteirada ao fazer a propulsão provocava pequenos desvios na sapata de suporte do referido Morteiro e eis que por desvio da base 3 morteiradas veem cair sobre a nossa posição uma delas vinha no ar e apercebo-nos que me vinha atingir a mim ao Joaquim Marques e ao Xico Magalhães só tivemos tempo de mandar um autentico voo para junto de um tronco de árvore que estava caído na nossa frente e assim podemos os três escapar ilesos deste morteiro já a mesma sorte não tiveram os Nativos que nos acompanhavam pois como não possuíam treino Militar ficaram em pé expostos aos estilhaços de tais Morteiradas tendo uma série de feridos alguns em estado muito grave, tratou-se da evacuação desses feridos não sei se algum terá Falecido, mas as Morteiradas que caíram no sitio certo fês o inimigo levantar a emboscada e recolher ao seu refugio, assim nós conseguimos fazer o regresso ao PI para fazermos a ultima refeição e proceder ao necessário descanso, estes dias eram todos vividos com grande azafama a e intensidade percorremos grandes distancias entre o PI e os locais objetivo destruição creio que teremos ido da margem do rio até á famosa Cunha e Irmãos zona de grande implantação do inimigo, como não bastasse a azafama do dia durante a noite e em cada secção estava sempre um de vigilância quando um cumpria a sua hora logo chamava o que estava a dormir ao lado para que fizesse a sua parte de vigilante, fiz todas as noites a minha parte bem como todos os meus Camaradas depois era dormir naquela cama de terra batida mas o cansaço era tanto que até sobre pedras dormíamos , enquanto estávamos alerta na hora da vigilância e posso falar por mim muitos sustos passei porque na Mata havia animais que se movimentavam e em especial ali perto dum Rio os animais ao passarem faziam sempre algum barulho o problema era sentir o mexer de qualquer coisa e era necessário conter o medo e o nervosismo para não desatar-mos a dar tiros á toa, aqui vem á nossa mente será animal? ou inimigo a procurar aproximar-se? mas há que conter o medo e redobrar a atenção para procurar-mos acalmar e distinguir a situação, felizmente nesses 45 dias só uma vez tivemos problemas no PI foi creio que na noite do Portugal Brasil o inimigo deve ter pensado que nós pela euforia da vitória sobre o Brasil cometêssemos algum exagero e descurasse-mos a nossa defesa, bem se enganaram, levaram um tratamento que não tiveram mais vontade de repetir a experiencia, aliás a posição tinha sido bem escolhida e levaríamos sempre vantagem sobre o inimigo se ele tivesse essa ousadia, eles sabiam isso e lá fomos conseguindo passar os dias cumprindo a nossa missão como programada. Mas há sempre coisas negativas em operações com longa duração, a mesma roupa, as mesmas meias o mesmo calçado muito suor acumulado dum clima quente como é o Norte de Angola, proporcionava ao alojamento especialmente aos pés apanhar certo tipo de micróbios e como ao destruir cubatas entrava-mos nelas para averiguar da sua utilização pelo inimigo apanhávamos facilmente nos pés as chamadas Matacanhas um tipo de pulga minúscula que se alojava na pele dos pés e desenvolvia um tipo dum pequeno ovo de pele mole que rapidamente crescia, houve Camaradas que tinham mais de dez em cada pé, eu casualmente só apanhei duas no mesmo pé como já tinha apanhado com esta praga quando fomos para Kicabo e aqui tive que me socorrer dum Nativo para mas tirar pois os nossos Enfermeiros nem sabiam oque isso éra aprendi como proceder para retirar cada ovo sem que rasgasse a membrana deles porque aí a propagação seria pior e então vai de retirar as minhas e as de muitos Camaradas mas escusado é pensar tirar mais de dez em cada pé sem causar alguns danos na carne dos pés pois esta operação tinha que ser feita com a ponta de uma Navalha muito afiada e escavar na carne envolta do ovo para o retirar direito isto fazia com que ao ter muitas em cada pé quem as tinha ficava com os pés numa chaga e lembro-me de pelo menos dois Camaradas, O Sequeira e O Margalhau aquém tirei tantas que metia dó ver os seus pés, talvez por algum Superior ter alertado para este facto uns dias antes de acabarmos a missão foi um Médico ver-nos e deu-nos como incapazes de prosseguir a tarefa e então nos últimos 2 ou três dias não saímos para as destruições e ficamos no PI á espera do dia que estava destinado para os Fuzileiros Navais nos irem fazer o transporte de travessia do Rio para dali virmos á Fazenda Maria Manuela e podermos iniciar o regresso a Kicabo.
Peço desculpa pela falta de entrosamento no tempo e na forma da descrição mas não sei fazer melhor, agradeço a todas as possíveis correções aos que comigo viveram estas incidências.

Jacinto Borges Gostei do que escreveste, acho que está bem escrito, relatas muito bem o que se passou, é uma história vivida por ti e por todos os colegas que integraram essa missão que merecia ser contada, os meus parabéns por o teres feito, com pessoas como tu e outros especialmente da tua companhia é que se consegue fazer com que isto avance, é mais uma coisa que, vai ficar muito bem no blogue, isso já é trabalho que o amigo David vai ter de executar e com certeza com muito gosto, todos vocês que integraram as companhias operacionais têem muitas coisas para contar só é preciso boa vontade para as colocar aqui e mesmo os que eram da CCS também têem coisas, pois o isolamento dentro daquele aquartelamento de Quicabo a isso era propício. Acho que nós somos poucos aqui, mas mesmo assim se todos formos metendo cá umas coisas conseguiremos levar isto para a frente e o tempo urge,pois está ficar curto. Bem hajas pelo teu empenho e dedicação. Um abraço para ti e para todos os camaradas do B.Cav !883.
 
  • Elisio Nunes muito bem amigo Silva pois a narração está perfeita recordo-me da maior parte pois tambem passei por elas como as (matacanhas) como a travessia muito dífícil pois havia muita corrente admirei muito a coragem dos FUSILEIROS pois eram muito seguros do que faziam BRAVO A ELES e para ti tambem pois foste excelente nesta memoria ,abraço
     
  • Vitor Cordeiro Parabens, Manuel Silva pelo relato que fazes e é precisamente como tu contas visto que eu(C.Cav.1537) também alinhei nesta operação por duas vezes, a 1ª logo após termos chegado a Quicabo passados uns dias e depois foi na Mata do Inda (próximo de Nanbuangongo) aqui não lerpei por milagre mas vi o turr
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  • Manuel Do Souto Bravo silva;eu podia ter contado tambem mas na realidade, é melhor quando sao varios a contar,nao sempre os mesmos nao pode ser tu e eu ou eu e tu;somos cento e tal para contar.Alias,eu ja tinha dito que te ajudaria nessa operaçao ainda bem que avançaste;assim ja nao tenho de ir ver o meu diario.Parabens ,bravo,e 1 abraço.AVANTE CAMARADAS,AVANTE.VENHAM ESCREVER A NOSSA HISTORIA.NAO ESTEJAM SEMPRE A ESPERA.QUE NOS VOS AVIVEMOS A VOSSA MEMORIA
     
  • Manuel Do Souto So tenho a dizer,que no dia do Portugal corea,em que potugal a perder por 3 a 0,ainda foi ganhar 5 a 3;de volta au pi,fomos atacados na lavra,e gritamos au inemigo;vao se embora, queremos ir ouvir o relato de portugal;e os turras responderam;se querem ir houvir o relato de Portugal, vao para o puto.puto,devia ser um patua do norte de angola para dizer Portugal.Neste encontro,ganhamos porque o Eusebio,foi Eusebio
     
  • Hélder Barreira Eu ( CCAV1537) estive por duas vezes ( 45 dias cada ) nessa operação . Ai se as paredes falassem ......
     
  • Manuel Silva Não sabia que a 1537 tinha feito duas missões na kissonde deve ter cumprido a tarefa de outra companhia, alguém pagava as favas que outros comiam

  • Hélder Barreira Pois foi , ai as n/memórias !!!!! Devo ter or aqui uma medalha comemorativa que ofereceram a todos os participantes.
     
  • Vitor Cordeiro Manuel Silva fizemos a 1ª em Maio/66, junto à Fazenda Bom Jesus e depois a outra foi na mata do Inda junto a Nambuangongo aqui eu ia lerpando ainda ouvi o zumbido da bala dos turras foi um milagre. Não sei se o nosso camarada Barreira se lembra disto visto que foi a nossa sorte ele mandar a malta toda sair das viaturas todos a pé e as viaturas no meio da malta, fizemos fila indiana e eu com ele iamos na frente eu no lado direito e ele no esquerdo e vi o turra numa linha de água a desviar o capim para poder passar para se juntar aos outros, se levo a arma na posição de rajada eu matava o turra
     
  • Hélder Barreira Claro que me lembro. Tivemos muita sorte. ..
     
  • Vitor Cordeiro Se ficasse-mos em cima da viaturas o turra atirava uma granada ia mais de um para o galheiro