sexta-feira, 23 de novembro de 2012

Eternos Ausentes

  
Eternos ausentes...

De pé esperei enquanto uma lágrima corria ao sabor do vento
aos poucos suavizei as minhas recordações
no fundo de um copo que estava sempre vazio
... na alegria dos rostos dos camaradas que esvoaçavam
como se fossem aves portadoras de amizade ou de recordações
o rosto fechado, vincado, anónimo por vezes
era visivel, no meio deste palco da vida
palco enorme

A quem eu sempre chamei o barco da noite escura
que avançaçava deixando na sua rota
os lábios dos que nos queriam
e através de um perfil préviamente traçado,
deixava cada vez mais longe as mulheres com cruxifixos
e braços espirituais...
as mulher como se fossem estátuas, ficavam
com o seu ser envolto em chamas, e
com gritos silenciosos, como se os gritos pudessem
ser silenciosos, gravados nas suas pupilas.

Mulher, Mãe, Amante, que não veio como a noite prometera
numa enorme nuvem que pairava sob as nossas cabeças...
ai o meu coração coberto de cinza e de carne estropiada
chorou imensamente por saber que não podia voltar....

A amante que ficou só algures no cais
castigada pelo destino
afogava ao mesmo tempo o seu amor na caveira
deste inferno carnal e desesperante!...

os anos passaram,
mas tal como as vossas, Mães, Mulheres ou Amantes

Eu também não vos esqueci!...


Homenagem de A.David, aos CAMARADAS mortos em combate em Angola

1 comentário:








  1. Jacinto Borges Amigo Alberto David estou contigo nesta homenagem aos nossos camaradas mortos na guerra colonial em Angola, tal como dizes no teu poema tantas lágrimas de tantas mães, mulheres, amantes e porque não dizê-lo de tantos camaradas? Porque naquele inferno, tal campo de concentração no norte onde passamos 14 meses, sem qualquer contacto com outras gentes, só nós e mato, ataques de permeio à falsa fé, vidas ceifadas no auge da sua juventude, morte, raiva, dor e tristeza, muitas lágrimas também derramadas e também muita raiva naquela altura e hoje hoje por todos os políticos que nos governam, e por todos aqueles que nos governaram, a maior parte traidores à pátria desse tempo e que ainda nos apelidam de assassinos, quanta ingratidão? Alguma vez souberam o que é sofrimento? Alguma vez terão pensado no sofrimento que sentimos e que nunca se esquece pela vida fora? Alguma vez saberão o que é ver um camarada com um metro e noventa dentro dum caixão de setenta centimetros? Pobres ratos que tal Pátria tem e que só me merecem a minha mísera consideração. Um abraço para ti e para todos os camaradas que lutaram por esta Pátria que tão mal tem tratado quem deu a vida por ela

    ResponderEliminar