domingo, 14 de julho de 2013

Uma aventura em Angola!


Uma aventura em Angola

Última noite em Estremoz passou-se assim: Fui jantar fora com alguns companheiros e como a noite era de despedida jantámos e bebemos uns copos, de maneira que fiquei com uma piela de todo o tamanho de tal forma que para ir para o comboio tiveram que me levar. Quando cheguei a Lisboa estava lá a minha irmã com a bagagem, foi a despedida e lá entrei para o Niassa. Começou assim uma viagem que foi muito sentida, pois íamos para longe de tudo e de todos sem saber o que íamos encontrar. Quando me sentia menos bem deitava as mãos a uma garrafa! Tinha um grande amigo e assim que me via com a garrafa na mão dizia: - Oliveira deita essa garrafa ao pego! Nunca me vou esquecer desse amigo, era o Cristo, todos os meses me pagava uma cerveja e dizia: - Oliveira pode ser a última que eu te pago … e um dia foi mesmo o último, e numa emboscada fui dar com ele morto.
A chegada a Luanda foi no dia 26 de Abril de 1966, desembarcamos no porto mar e fomos para o Grafanil onde montamos as tendas de campismo e lá tivemos alguns dias. Uma tarde fui a Luanda com uns amigos andamos a passear e já de noite fomos a um quiosque na marginal comer uns camarões pois o apetite era muito, comemos e bebemos e já estávamos bem tratados, eu fui fazer xixi do outro lado da marginal e quando vinha de regresso encontrei um banco e lá fiquei, os meus amigos julgaram que eu me tinha ido embora pagaram a despesa e foram-se embora, e eu lá fiquei a dormir no banco, quando acordei estava sozinho e só via passar os carros da polícia militar, fiquei muito assustado e fui a andar direito á Portugália onde estava um carro e meti-me lá debaixo a passar umas horas até amanhecer. Depois saí de lá e fui andando a caminho do Grafanil, passou um carro militar e levou-me até lá onde os meus colegas já estavam preocupados, quando apareci é claro que ficaram todos satisfeitos. 
A seguir foi a ida para o norte no dia 1 de Maio de 1966, partimos em coluna e nas avenidas os civis diziam-nos adeus acenando com lenços brancos, a próxima paragem foi no Caxito, onde foi o pequeno-almoço, continuámos a viagem até Quicabo onde ficámos alguns meses. A missão era fazer reconhecimentos, para os maçaricos foi um sítio que se chamava o Novo Mundo, onde fomos atacados por formigas, houve até quem se despisse com tanta formiga na roupa. Uns meses mais tarde fomos para a operação Quiçonde onde havia tango (tiros) todos os dias, também havia lá muita mata canha nos pés, quem ma tirava era o meu amigo Lourinhã, para ele um grande abraço do amigo Oliveira. Depois de 6 meses em Quicabo fomos para as termas de Maria Fernanda onde era tudo diferente e até o clima era bom. Uma vez estava a malta a jogar á bola e o nosso Capitão estava fora, quando chegou andávamos em tronco nu e descalços, era uma rebaldaria como se costuma dizer. O responsável era o Alferes Azevedo e o Capitão não achou muita piada e disse: - Nosso alferes, patrão fora dia santo na loja. Passado uns tempos fomos fazer um reconhecimento e encontramos um enxame de abelhas, aí foi um pandemónio e corria um para cada lado. Mais tarde fomos rendidos e dirigimo-nos para Luanda e depois para o Leste, fizemos a viagem na
camionagem Eva para Nova Lisboa, cidade muito bonita, aí apanhamos o comboio para o Lumége onde tivemos 9 meses numa vila bonita e muito acolhedora. Uma vez o meu pelotão foi ajudar a companhia que estava em Vila Teixeira de Sousa fomos fazer uma patrulha e ficámos lá uma noite, dormimos dentro de um quibo abandonado e fomos atacados pelas carraças, fomos todos mordidos pelos bichos e viemos para o quartel onde tivemos que ser todos desinfectados. Voltámos então para o Lumége depois de tanto saltarmos de um lado para o outro e de muito trabalho, acontece uma desgraça, fomos a Luaxe fazer um reconhecimento e no regresso tivemos duas emboscadas onde tivemos 3 baixas no dia 27 de Março de 1968, o nome deles era o Cristo, o Celestino e o Diplomata. Uma tarde que nunca me vou esquecer na vida, nessa tarde viemos para o quartel e há noite saiu um grupo para ir fazer um reconhecimento onde tiveram também uma emboscada e onde faleceu o Alferes Pais, foi uma operação muito difícil, vi na pista 2 bombeiros e 1 helicóptero, um momento que marcou muito a vida de muita gente, foi esta a realidade do passado e de uma vida militar. 
Depois chegou o dia do regresso para o embarque no dia 1 de Maio de 1968 em Luanda, foi um dia muito comprido para depois de tantos dias á espera esse dia tão longo parecia não chegar a hora mas enfim chegou e finalmente embarcamos. Chegámos a Lisboa no dia 13 de Maio de 1968, fomos muito bem recebidos, tínhamos a família á nossa espera, eu tinha a minha querida mãe, a minha irmã e mais uns primos, após estarmos com a família lá partimos de comboio para Estremoz onde fizemos o espólio, e a despedida do nosso comandante, depois vim para casa onde o resto da família me esperava. A seguir foi descansar uns dias e depois procurar trabalho. Fui trabalhar para uma empresa de metalomecânica que se chamava Cometna, junto á estação do caminho de ferro de Palmela, onde trabalhei 2 anos, depois fui para outra fábrica que era de montagem de automóveis chamada Movauto nas Praias do Sado em Setúbal, onde trabalhei 6 anos, entretanto casei constitui família e tive uma filha. Depois de tudo isto a Movauto resolve dar ordem para fechar e abre outra empresa ao lado de frigoríficos chamada Frisado, depois mudou de nome para Ariston e depois para Merloni lá permaneci 32 anos e de lá saí aposentado. 
Hoje tenho uma pequena horta onde passo algumas horas do dia vou semeando algumas hortaliças para consumo de casa.

Com isto me despeço de todos os meus companheiros, muitas felicidades.
Jorge Henrique Oliveira Soldado nº2187/65 companhia 1 535

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